Um bate-papo sobre o Autismo: Inclusão e a realidade na sala de aula.

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“O desafio atual encontra-se ligado à escolarização de pessoas com autismo no ensino regular como forma de inclusão social e educacional” (Humphrey 2008)

 

Há aproximadamente 2 anos e meio, tive a oportunidade de conhecer um menino muito inteligente, curioso e tímido, não vou chamá-lo de especial, por que todos somos especiais, cada um de nós tem sua particularidade e seu desenvolvimento. Mas, para aqueles que possuem o diagnóstico de Autismo,  um transtorno complexo e abrangente do neurodesenvolvimento, que engloba o Transtorno do Especto Autismo (TEA), Transtorno Invasivo do desenvolvimento (TID) e Transtorno Globais do desenvolvimento (TGD) mostra que existe uma variação de desenvolvimento para cada indivíduo, que pode ser lento ou até mesmo acelerado.

Muitos falam de um mundo singular, que a criança, o adolescente e o adulto com autismo vive, porém esse mundo pode se tornar a sua prisão (no caso dos Autistas sem estímulos e que por algum motivo não foram diagnósticos) ou pode ser uma grande descoberta, tanto  para o autista assim como para aqueles que convivem.

Minha experiência com um autista começou na minha sala de aula, muito tímido mas super inteligente e com suas manias de origami, esse meu “companheirinho” me chamou muita atenção, no seu jeito de olhar, na sua maneira de falar, no seu jeito de empilhar. Com seu jeito peculiar, descobri que não se tratava de um aluno dito “normal” tinha suas peculiaridades, o que na época me chamou muita atenção. Conversei com a coordenação e ali estava ele, o meu “Puzzle”  – Como ensinar inglês a uma criança com o diagnóstico de autismo? Foi difícil! Sim, mas muito prazeroso.

Quando terminei a Universidade, isso há quase 15 anos atrás a disciplina de Psicologia da Educação, nos informava sobre as teorias, porém na prática não havia técnicas, conhecimento e nem formação de profissionais. Hoje em 2014, o Brasil ainda  pouco se sabe sobre o Autismo. O nosso País está com um atraso de 20 anos em pesquisas sobre o tema e isso se reflete também na educação.

Portanto, como incluir uma criança com Autismo na nossas sala de aula? Esse foi um dos fatores que me levou a pesquisar e buscar por conta própria, conhecimentos técnicos, criação de matérias adaptados e um grande dose de atenção, respeito e amor. Na mesma época tivemos o mesmo diagnóstico em minha família.Com isso tive a oportunidade de compartilhar as técnicas aprendidas como o meu aluno, técnicas essas utilizadas por uma equipe multidisciplinar de Psicologia, Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia. Umas das técnicas que utilizo é o método TEACHH (Treatment and Education of Autistic and related Communication handicapped Children) utiliza estímulos visuais e audiocinestesicovisuais ( som, palavras, movimentos associados às fotos) para produzir comunicação.  Sendo assim, é um trabalho interdisciplinar e multidisciplinar, não é um trabalho solo, é interligado com os familiares, Instituição de Ensino e Tratamento. No meu caso, esse meu aluno tinha todo o apoio de sua família, com isso o diagnóstico de (TEA) era quase nulo (porém, muitos especialista confirmam que não existe cura para o Autismo o que existe é a redução do grau).

Sendo assim, Como incluir essas crianças em uma sociedade onde a educação de base não tem profissionais qualificados, os materiais adaptados são caros e/ou escassos, e a conscientização da sociedade ainda é absurdamente passiva. Poucos sabem, mas o Autista tem os mesmo direitos dos Portadores de Necessidades Especias e assim como os Portadores de Síndrome de Down.

Em 2013, A lei do Autismo foi reformulada e sancionada que hoje é conhecida como a Lei Berenice Piana de n°12.764. A Lei a segura todos os direito aos Autistas, fazendo que todas as escolas em Território Nacional faça a inclusão dos autistas em sala de aulas regulares, em casos específicos havendo necessidade a integração do mediador (profissional capacitado para auxiliar o autista na Instituição de ensino, que pode ser um psicopedagogo, psicólogo ou professor)

Por isso, hoje nas redes socais por ser o Dia Internacional da Consciência sobre o Autismo muito vai ser falado, o que é muito importante, mas tenhamos a consciência de que estas crianças, adolescente e adultos precisam de nosso apoio e confiança.

Devo confessar, o que mais me deu prazer em dar aula para o meu “companheirinho” foi que redescobrimos a ser feliz, e viver um dia após o outro, sem pressa e sem correria, e  o que descobrimos juntos nas nossas aulas nos tornou grande amigos e me fez acreditar em uma Educação Inclusiva para todos.

Por fim, dedico esse post a todas as crianças, adolescentes e adultos que foram diagnosticados autistas e que hoje estão provando que são mais que capazes, são guerreiros.

 

Que hoje seu dia seja o mais azul de todos!

 

Priscila Mateini

 

Referências:

 

Autismo, educação e transdisciplinaridade – Carlos Schmidt (org.) – Campinas, SP: Papirus, 2013.

Autismo, linguagem e educação: interação social no cotidiano escolar – Sílvia Orrú – RJ: Wak,  2012

Doenças do cérebro: autismo, volume 6  2.ed São Paulo: Dueto Editorial, 2012.

 

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